Lições de reformas educativas - "pensamento crítico" que subverteu o ensino nacional

Liçoes de reformas educativas
Lições de reformas educativas nacionais e europeias
Igor Khmelinskii,[1] PhD, Prof. Agregado
Universidade do Algarve, FCT, DQF e CIQA

Educação – é o que sabes depois de ter esquecido o que te foi ensinado.
Sumário[2]
Seguindo o exemplo dos Estados Unidos, Portugal implementou nos anos 80 o paradigma da escola liberal, bem como a grande maioria dos países europeus, Rússia e outros países da antiga URSS. Este conceito da escola enfatiza a formação do pensamento crítico, criativo e independente, bem como a percepção dos alunos, paralelamente negando o desenvolvimento da memória e memorização. Os estudos mostram que na consequência directa desta abordagem, a esmagadora maioria dos alunos fica privada de conhecimentos específicos das disciplinas curriculares, memorizados numa forma reutilizável, ficando então sem capacidades de pensamento abstracto. Facto que provoca uma degradação dificilmente reversível de todo o sistema educativo, desde a escola primária e até aos cursos de doutoramento. Assim, os alunos habituam-se a aproveitar apenas a sua memória de curto prazo, ajudados pelos métodos e critérios de avaliação que se adaptam às suas capacidades e competências defeituosas, disfarçando a ausência total de conhecimentos memorizados. O artigo discute as experiências das reformas educativas em Portugal, dando dicas para que os alunos possam usar de forma a estimular a memorização e o desenvolvimento da sua memória permanente, e ainda recomendações para melhorar os resultados da aprendizagem no sistema de ensino nacional.
Reforma da escola nacional
A partir dos meados dos anos 80 foi introduzido em Portugal, seguindo o exemplo dos EUA e outros países europeus, o conceito da escola liberalizada. Este conceito enfatiza o desenvolvimento do pensamento crítico, criativo e independente dos alunos, a começar logo na escola primária, em contraste com o modelo anterior da escola formalizada, que dava muita atenção à memória e memorização. O autor estudou na escola soviética desde 1964 e até 1974, onde a sua educação também foi baseada em grande parte na memorização, chegou a Portugal em 1993, onde encontrou alunos que se preparavam para repetir o exame final de matemática pelo currículo pré-reforma, precisando de saber fórmulas de trigonometria, logaritmos etc., tal como acontecia na escola soviética.
Oficialmente a escola liberal não exige que seja decorada coisa alguma[3]; em vez disso, exige-se a percepção de como as respectivas fórmulas ou valores podem ser obtidos, e quais são as consequências disso. Esta abordagem é seguida desde o primeiro ano da escola primária; por exemplo, não se exige saber de cor a tabuada, por essa razão apenas muito poucos alunos a sabem; os poemas também não são decorados, embora se estude na escola secundária a poesia do Camões. Alguns anos atrás mostraram na televisão umas entrevistas com alunos junto à entrada do Instituto Superior Técnico (IST), uma das escolas de engenharia portuguesas mais conceituadas. Ora perguntada qual o resultado da multiplicação seis vezes sete, uma aluna respondeu: "não sou matemática". Note-se que era uma competência antigamente inerente à escola primária, hoje em dia nem sequer está a ser exigida na universidade. Naturalmente tendo acesso à calculadora os alunos são capazes de fazer as contas mesmo sem saber da tabuada. Mas dado que são incapazes de fazer cálculos aproximados mentalmente, eles não conseguem ajuizar a validade de resultados obtidos e detectar os erros, que podiam ser evidentes caso os soubessem fazer. Um outro grupo de dificuldades surge por não saber as regras básicas de matemática, as quais também não foram decoradas, pelo que para calcular uma expressão na calculadora, são incapazes de colocar correctamente os parênteses. Por exemplo numa expressão semelhante a esta:

           
para evitar os erros no uso da calculadora, os alunos passam os resultados intermédios no papel, e depois reintroduzem os mesmos na máquina, para fazer a operação seguinte. A reintrodução de números aumenta a probabilidade de erro e dificulta a verificação de resultados. O arredondamento traz igualmente muitas dificuldades, já que os alunos não se lembram das regras dos algarismos significativos ou casas decimais, utilizando em substituição receitas duvidosas.
Fenómenos idênticos são observados na maioria dos outros países da UE, e a seguir – na Rússia e nos outros países da antiga União Soviética[4], que também adoptaram o mesmo paradigma vicioso de escola liberal, com ênfase no desenvolvimento do pensamento crítico.
Memorização de cor e memória permanente
A lacuna em saber a tabuada além de não saber detectar erros nos cálculos efectuados com ajuda de uma calculadora, tem outras consequências ainda mais graves. Nomeadamente, a nossa memória de longo prazo funciona como uma base de dados associativa, ou seja, uns elementos de informação ficam associados[5] na sua memorização a outros, conforme as associações existentes entre eles no momento de os conhecermos. Então, para que se consiga formar uma base de conhecimentos numa área específica como por exemplo matemática, antes de mais precisamos de decorar alguma informação desta área. A informação que acabamos de conhecer pode passar de memória de curto prazo para a memória de longo prazo, desde que durante um intervalo curto de tempo (poucos dias) iremos reencontrá-la repetidamente e de preferência em circunstâncias variadas, multiplicando o número de associações úteis. Entretanto, não havendo na nossa memória permanente conhecimentos de matemática, os elementos de informação que vamos memorizando ficam associados aos elementos que nada têm a ver com matemática – como personalidade do professor, tempo na rua, etc. Obviamente uma memorização sem associações aos outros conhecimentos de matemática não trará nada de útil ao aluno – já que as associações não são da respectiva área, o aluno não será capaz de recordar nada de matemática, quando precisar disso, para além das ideias muito vagas de como algures devia ter ouvido falar daquilo. As associações em falta são fornecidas a estes alunos pelas dicas de todo tipo – copiar do colega, usar as dicas do próprio enunciado, as fórmulas do formulário, resultados das contas na calculadora, cábulas, etc. Obviamente, nenhuma destas dicas existe fora da sala de aula, deixando o ex-aluno na vida real sem quaisquer conhecimentos memorizados aplicáveis a uma possível situação em que se encontra[6] .
Diagnóstico do sistema educativo: a síndroma de cabeça oca
Recentemente o projecto PMAT, organizado pela Sociedade Portuguesa de Matemática, avaliou em que medida a preparação adquirida pelos alunos no ensino secundário lhes permite estudar a matemática na universidade[7]. Sujeitaram-se ao teste diagnóstico 1398 caloiros das duas universidades técnicas mais conceituadas no país, que passaram no exame de Matemática A na escola e iam estudar duas disciplinas de matemática no seu 1º semestre, Análise I e Álgebra linear. A média de entrada destes alunos era de 15,7 na escala de 0 a 20, ou seja trata-se de um grupo de alunos francamente bons. O teste diagnóstico tinha 30 perguntas que insidiam sobre o currículo escolar da disciplina de matemática, trata-se de questões de escolha múltipla com 3 respostas, uma das quais certa. Os estudantes não podiam usar calculadora, nem qualquer outro tipo de meios auxiliares. O teste foi realizado duas vezes antes e após o primeiro semestre. Observou-se uma correlação entre o sucesso escolar no secundário e no superior: os alunos com média superior a 15 passavam nas referidas duas disciplinas de matemática do primeiro semestre, enquanto os com a média inferior a 13 chumbavam uma ou em ambas. Entretanto, a nota média do 1º teste diagnóstico foi de 0 valores na escala de 0 a 20 – na média os alunos responderam correctamente a 10 perguntas das 30. Este resultado, escolhendo uma resposta das três possíveis, é obtido pela escolha aleatória da resposta a cada uma das perguntas, e não exige qualquer conhecimento. O melhor aluno deste grupo de 1398 pessoas teve a nota de 12 valores na escala de 0 a 20 (22 respostas certas). O valor nulo da nota média é explicado pelo facto de os conhecimentos de melhores alunos ficarem anulados pelos conhecimentos falsos dos restantes, que escolhiam respostas falsas com uma frequência maior do que seria obtida numa escolha completamente aleatória das respostas. A nota média do segundo teste foi de 2 valores na escala de 0 a 20 (12 respostas certas), sendo 16 a nota do melhor aluno (26 respostas certas). A melhoria aconteceu na parte das funções e derivadas – que foram estudadas durante o 1º semestre no currículo da disciplina Análise I. Uma parte dos alunos foi ainda entrevistada (os melhores 20% e os piores 20%), mas, surpreendentemente, nenhum se lembrou de que os dois testes eram idênticos, tendo-se esquecido de tudo em 3 meses. Repetindo o mesmo teste passados mais 3 meses, iremos, sem sobra de dúvida, descobrir que a memória de curto prazo dos nossos alunos ficou outra vez limpa, e os resultados voltaram ao ponto inicial – a nota média nula. O mesmo quadro será observado nas outras disciplinas do currículo escolar, tendo em conta que todas elas baseiam-se na mesma recusa de desenvolver e utilizar a memorização no processo educativo.
A ausência de conhecimentos específicos decorados pelos alunos, tanto em matemática, como em qualquer outra área, faz com que uma larga maioria deles não consiga formar uma base de conhecimentos na sua memória sobre qualquer uma das disciplinas do currículo escolar, o que se manifesta na síndrome de cabeça oca. Havendo dicas de algum tipo, os alunos frequentemente conseguem recordar as informações das quais precisam – a dica proporciona uma associação que faltava ao aluno. Naturalmente os professores constroem os testes e os exames com dicas suficientes, para conseguir dar as notas positivas a um número significativo dos alunos[8], qualquer que seja o nível real dos seus conhecimentos, pois o trabalho do professor está a ser avaliado pelo sucesso académico dos seus alunos.
Recordemos que durante vários anos a nota média nos exames nacionais de matemática e de português rondava 7 valores, enquanto a nota média de avaliação contínua nas mesmas disciplinas rondava 12 valores. Esta diferença pode ser atribuída ao facto de os alunos estarem a usar predominantemente a sua memória de curto prazo, já que não conseguem usar a memória de longo prazo. A memória de curto prazo consegue assimilar uma quantidade muito limitada da informação, e apenas por um período curto de tempo, que dificilmente ultrapassa alguns dias. Assim, na avaliação contínua de conhecimentos, feita com base nos testes, a memória de curto prazo é utilizada com grande eficácia – uma quantidade reduzida de informação pode ser memorizada durante 2 ou 3 dias que os alunos tipicamente utilizam para se prepararem para o teste. O volume de informação é bem maior na preparação para um exame final, enquanto os intervalos entre os exames não permitem utilizar um tempo de preparação proporcionalmente maior, reduzindo a qualidade da preparação. Ainda, no fim de uma preparação prolongada, já se nota a perda da informação adquirida no seu início. Assim, as notas do exame necessariamente e inevitavelmente devem ser mais baixas. Na prática, o ministério de educação, pressionado pela sociedade civil, ajustou a dificuldade dos exames e os critérios da sua avaliação de forma a subir a média dos exames em cerca de 5 valores, coincidindo esta com a média da avaliação contínua. Assim, as duas formas de avaliação produzem resultados coincidentes, podendo agora entrar nas universidades os alunos com um nível de conhecimentos e competências tão baixo, que anteriormente estava a ser rejeitado como insuficiente pelas universidades, e com toda a razão[9].
Memorização e pensamento abstracto
Uma comissão internacional independente, que verificou o sistema nacional de ensino superior, notou entre outras, uma queixa geral e recorrente de professores universitários: os alunos são incapazes de pensar criativa e logicamente.[10] Desta forma, o paradigma da escola liberalizada foi incapaz de atingir o seu objectivo principal declarado, a sua razão de ser e o pretexto de destruição da escola formalizada. Este é um resultado de ausência de conhecimentos específicos às disciplinas estudadas na memória permanente dos alunos, numa forma que permite a sua reutilização. Nomeadamente, o pensamento abstracto requer a memorização de definições, de teorias principais, fórmulas, datas e outros elementos que formam a base de conhecimento em qualquer área específica de conhecimento. Faltando estes elementos na sua memória permanente, o aluno é incapaz ao pensamento abstracto na respectiva área – cada uma destas tem o seu conjunto de noções e ideias, sua linguagem, que necessitamos de saber de cor, antes de podermos sequer idealizar o pensamento abstracto. O mesmo nota-se nos estudos linguísticos, quer seja de língua materna ou estrangeira – na medida de enriquecimento do seu vocabulário activo, o aluno adquire a capacidade de discutir os problemas cada vez mais profundos e complexos. Como regra, além de vocabulário, precisamos sempre de capacidades de pensamento abstracto e do conhecimento da lógica[11]. No sistema existente, uma grande maioria dos alunos não tem estas capacidades, e nem tem as condições nem estímulos para as desenvolver. O último facto é uma consequência de hábitos de estudo e métodos de avaliação que não requerem conhecimentos memorizados, podendo os alunos limitarem-se ao uso da memória de curto prazo, sendo este o caminho que eles melhor conhecem ou mais gostam, que requer pouco trabalho – apenas 2 ou 3 dias de preparação para o teste ou exame – mas entretanto não permite adquirir os conhecimentos permanentes – dos quais os alunos até não precisam para serem aprovados. Assim, os alunos preparam-se para os exames usando a sua memória de curto prazo, e depois passam – utilizando as dicas de toda a espécie, desde as introduzidas nos enunciados pelos professores, e até copiando dos colegas e aldrabando de todas as formas possíveis e sem os mínimos escrúpulos[12] .
Pensamento crítico na escola primária
As tentativas da escola liberalizada de desenvolver e usar o pensamento crítico, criativo e independente da escola primária são destinados a falhar, já que estas capacidades não existem nas crianças desta idade, ao nível neuropsicológico. Elas surgem por necessidade biológica na puberdade, quando os adolescentes de repente passam a ter ideias muito próprias sobre tudo, irritando os seus pais e professores. Entretanto, os alunos da primária conseguem e bem imitar a capacidade de pensamento crítico, utilizando a sua capacidade inerente de perceber e interpretar as dicas, consciente ou inconscientemente dadas em várias formas pelos professores, estes também interessados de obter bons resultados na avaliação dos alunos. Assim, quaisquer indícios de pensamento crítico dos alunos da primária resultam por um lado de aldrabice (até inconsciente) dos alunos, e por outro de auto-hipnose de professores, enquanto o tempo, gasto nas tarefas do seu desenvolvimento – está a ser perdido inutilmente, prejudicando os outros componentes de ensino. Com efeito, em vez de pensamento crítico, estamos a promover exactamente o oposto, premiando a subserviência e o desejo de agradar aos superiores.
Memorização como capacidade de sobrevivência
Durante dezenas de milhares de anos e na ausência de escrita os conhecimentos importantes foram transmitidos de umas gerações para outras pela tradição oral. Entretanto, a presença de conhecimentos na memória pode ser o factor decisivo entre a vida e a morte, mesmo no mundo moderno civilizado e com todo o desenvolvimento de meios informáticos e comunicação. Basta recordar a menina britânica Tilly Smith e as tribos indígenas das ilhas de Andamão e Nicobar, cujos conhecimentos salvaram as suas vidas durante o tsunami Indonésio de 2004[13]. Entretanto, multidões inteiras de curiosos munidos de pensamento crítico e iphones não conseguiram perceber que se encontravam na vida real onde não se dá uma segunda tentativa, e foram levadas para o mar...  
Método visual ou global de ensinar a ler
A capacidade de estudar fica inevitavelmente determinada pela capacidade de ler e de ampliar o seu vocabulário activo. Estas capacidades ficam bloqueadas quando os professores da primária se fixam no método global de ensinar a ler. Este método pressupõe que os alunos identifiquem palavras inteiras, pela sua forma gráfica e sem distinguir as letras e as sílabas. O método até pode ser usado para memorizar o alfabeto, associando os desenhos às primeiras letras das respectivas palavras, mas o seu abuso faz com que o aluno fique com um vocabulário muito limitado, que não ultrapassa poucas centenas de palavras, sendo incapaz de ampliá-lo, já que não consegue ler as palavras desconhecidas, e muito menos procurar o seu significado no dicionário. Estes alunos na leitura de um texto desconhecido limitam-se a ler apenas as palavras conhecidas, tentando dai extrair algum sentido. Frequentemente, a existência de um problema na leitura apenas é descoberto no final da escola primária, o que corresponde a uma perda completa de quatro anos de escolaridade (e da vida do aluno), acompanhada pela perda de toda e qualquer motivação pelo sucesso académico[14].
Receitas para desenvolver a memorização permanente
Devemos incentivar os alunos para que decorem a tabuada, as definições, as fórmulas, os poemas e todos os outros elementos que foram tradicionalmente decorados na escola. Devemos evitar a simplificação dos testes até ao ponto que um aluno que decorou o capítulo do livro, sem perceber coisa alguma, e usou as dicas do próprio anunciado consegue uma nota positiva. Os alunos devem ser incentivados para escreverem à mão os apontamentos durante as aulas, e trabalharem adicionalmente com estes apontamentos e o livro tanto antes como depois de ser dada a matéria nova na aula, etc. O objectivo de todo este trabalho é criar os fundamentos das bases do conhecimento, que permitirá a criação de associações entre os novos conhecimentos e a respectiva área específica (ou áreas afins), e como consequência disso – o desenvolvimento de capacidades de pensamento abstracto dos alunos. O valor acrescentado dos apontamentos manuscritos prende-se com o facto de a ordenação da informação no papel também a sistematiza na cabeça, adicionalmente facilitando a sua assimilação e percepção.
Recomendações para melhorar o sistema de ensino
Devem ser restituídos os exercícios de desenvolvimento de memória e de memorização, como componente obrigatória de currículos de todas as disciplinas na escola primária, ciclo preparatório, escola secundária, e ensino superior, proporcionando a formação de bases de conhecimento das respectivas áreas específicas na memória dos alunos. Devem ser excluídos dos programas da escola primária os exercícios para desenvolvimento do pensamento crítico e independente, introduzindo estes no ciclo preparatório, de pouco a pouco, quando as respectivas capacidades surgem na medida de desenvolvimento do sistema nervoso central que acompanha o crescimento e o desenvolvimento das crianças. No seu modelo existente, os sistemas educativos dos países da UE e da antiga URSS produzem gerações inteiras de jovens iletrados, inumerados e ignorantes, incapazes de pensamento abstracto e de auto-desenvolvimento. A excepção são muito poucos alunos[15] que têm capacidades melhores de memorização, ou são adequadamente motivados pelos pais ou professores – estes conseguem sempre alcançar resultados excelentes, independentemente de todas as vicissitudes das reformas de ensino.


O artigo representa a experiência do trabalho do autor no sistema nacional do ensino superior e da sua extensa observação educativa, e baseia-se em parte nos materiais do blog, da mesma autoria: http://educacao-em-portugal.blogspot.com

Igor Khmelinskii nasceu em 1957 na URSS. Licenciado em física, ramo de física química, pela Universidade Pública de Novossibirsk (1979), doutorado pelo Instituto de Cinética Química e Combustão (ICQC), Novossibirsk (1988), agregado pela Universidade do Algarve (2003). 1979-1992: investigador no ICQC, Novossibirsk; desde 1993: professor na FCT, Universidade do Algarve. Publicou mais de 150 artigos nas revistas de especialidade.



[2] O artigo faz parte do relatório do projecto QUADRGA, 517123-TEMPUS-1-2011-1-DE-TEMPUS-SMHES, financiado pela UE e dedicado aos quadros de qualificações no ensino superior.
[3] A realidade é bem diferente: o método de trabalho de muitos alunos resume-se ao decorar, sem se perceber nada, capítulos inteiros, responder às perguntas do teste, identificando os parágrafos relevantes do decorado pelas palavras que aparecem no enunciado, e esquecer tudo por completo à saída da sala do teste: "Já estudei isso, agora não tenho obrigação de saber!" A uma explicanda do autor este método dava notas por volta de 13 em química no 9º ano, que revela pouca adequação dos testes aos objectivos de aprendizagem.
[4] A experiência do autor com os projectos educativos internacionais indica que a não-obrigatoriedade de saber a tabuada indica que estamos perante um sistema de ensino liberal (degradado).
[5] Quem já decorou um poema ou as palavras de uma canção, sabe que dita a 1ª linha, logo se lembra da 2ª, etc. Este é um exemplo da memorização associativa.
[6] Muitas vezes surge um contra-argumento que as pessoas podem não saber alguma coisa, mas então conseguem procurá-la nas redes informáticas. Este argumento funciona no contexto de trabalhos de grupo escolares, quando os alunos sabem o tema e podem ir buscar outros trabalhos semelhantes e adaptá-los às suas necessidades. Ora saber o tema então significa saber a resposta – mas só se sabem as respostas às perguntas muito frequentes. Os problemas da vida real que exigem pensamento da própria pessoa podem não ter respostas encaixotadas, desta forma o ex-aluno não será capaz de chegar às respostas pois não tem informações memorizadas que possa usar no seu raciocínio. Ou seja, a escola liberalizada está destinada a falhar quanto ao seu objectivo principal do pensamento independente: além de ser totalmente dependente quando sequer possível, nos casos mais importantes nem possível é. Resta a estas pessoas o recurso à irracionalidade da religião.
[7] Os dados apresentados foram extraídos da palestra da Marília Pires (Universidade do Algarve) apresentada na reunião do projecto TEMPUS/DEQUE em Faro (Fevereiro de 2012).
Ver ainda: Maria João Afonso, Curriculum Vitae, 21 pp: referências às publicações sobre o projecto PMAT, http://www.psicologia.ulisboa.pt/docentesmodule/docente_cv/id/77/, URL curto: http://goo.gl/kTfeMD, visitado em Novembro 2014. 
[8] Nos exames nacionais de Português e Matemática A, as taxas de aprovação rondam uns 50%, o que parece socialmente aceitável. Anteriormente os exames exigiam mais conhecimentos, com taxas de aprovação de cerce de 10%, o que gerou protestos de pais, alunos e professores.
[9] Com alguma insistência pela sua parte, estes alunos eventualmente acabam o curso, pois não podem ser chumbados infinitamente, pelas razões já referidas, embora sem ter adquirido quaisquer conhecimentos.
[10] “Portuguese Higher Education - A view from the outside” (Independent expert report sponsored by CRUP and EUA) full text, 52 pp, ver p. 35. http://www.eua.be/news/13-02-21/New_report_Portuguese_Higher_Education_- _A_view_from_the_outside.aspx, URL curto: http://goo.gl/CCa6sY, visitado em Novembro 2014.
[11] Ao contrário da Roma antiga, hoje em dia o conhecimento da lógica não é considerado uma necessidade para uma pessoa educada. Será esse o progresso da humanidade?
[12] Pois aprenderam a deixar a moralidade de fora nos exercícios de pensamento crítico na escola primária – v. infra. Aparentemente o ensino teórico da religião e moral católica não resiste às práticas da vida escolar.
[13] Com efeito, a Tilly Smith salvou a vida de cerca de 100 pessoas alojadas no hotel onde estava a sua família.
[14] Um dos filhos do autor começou os seus estudos no sistema de ensino nacional no 4º ano da escola primária. Aconteceu que naquela turma este filho, já sabendo o alfabeto latim – pois começou a estudar o Inglês no ano anterior – e sabendo ler em Russo, era o único que conseguia ler, embora naturalmente sem perceber nada do que lia. O resto da turma percebia tudo, mas não lia nada, depois de três anos passados na primária. E a professora ainda embirrava com ele, dizendo que ele não queria responder às perguntas que ela fazia sobre o tema, por mera teimosia.
[15] Em 2013 apenas 4,07% dos alunos que se sujeitaram ao exame nacional de Matemática A obtiveram uma nota "excelente" (acima de 17 valores na escala de 0 a 20). Tendo em conta as taxas de abandono escolar que ascendem aos 45%, apenas 2,5% dos jovens chegam a obter conhecimentos memorizados durante o seu percurso escolar.

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